Esta semana termino a série de vinte entrevistas que tenho aqui publicado durante os últimos meses. Foi uma experiência muito interessante, conhecer estes artistas de vários países e de uma criatividade imensa, espero que tenham gostado tanto como eu! Para terminar em beleza, hoje apresento-vos uma das primeiras crafters que tive o prazer de conhecer quando comecei a explorar este meio. Chama-se Ana e é geóloga em part-time a viver em Torres Vedras (perto de Lisboa).
- Como surgiu o teu interesse pelo artesanato?
Eu cresci numa pequena aldeia nos anos 80 onde era perfeitamente normal ver raparigas jovens no meio de senhoras mais velhas a tricotar, bordar e a fazer crochet. A minha mãe e a minha irmã mais velha eram grandes artesãs (ainda o são) e cresci com elas a fazerem coisas belíssimas ao meu lado. Comecei por aprender a coser à mão, para fazer a roupa das minhas bonecas. Um dia pedi à minha mãe para me ensinar a fazer tricot. Tinha 10/11 anos e queria ter aquela ligação que a minha irmã tinha com a minha mãe. Lembro-me de as ver sentadas a tricotar e a fazer crochet, e havia qualquer coisa de mágico entre elas que eu também queria fazer parte. A minha mãe começou-me um cachecol azul marinho, que só acabei, por piada, há 4 anos atrás. A grande paixão pelo tricot só chegou há 5 ou 6 anos atrás, quando descobri que a internet podia abrir portas para técnicas e materiais que eu não conhecia.
- E daí até começares a vender o que fazias, como é que aconteceu?
Primeiro aperfeiçoei-me. Nunca fui perfeccionista, ao contrário da minha mãe e irmã, e sempre vivi bem com os erros que fazia. Quando isso deixou de acontecer, senti que o meu trabalho já tinha qualidade suficiente para ser vendido. Isso aliado à necessidade de ganhar uns trocos a mais e pelo facto de já não ter espaço nem uso para mais malas e gorros tricotados que fazia.
- De onde vem a tua inspiração?
Sinceramente, não sei. As malas, os cachecóis, os gorros às vezes surgem na minha cabeça e eu faço uns sketches num bloco de notas que anda sempre comigo. Na maioria das vezes esses projectos não chegam às agulhas e poucos são os que saem numa semelhança satisfatória ao desenho do caderno. Mas quando aquilo que idealizamos na nossa cabeça sai exactamente, ou ainda melhor, do que imaginámos, é uma sensação maravilhosa. Como agora tenho andado mais dedicada ao arame tricotado, a inspiração vem mesmo de olhar para as missangas que tenho numa caixa e em misturá-las numa sopa que seja agradável à minha vista.
- Qual o teu material preferido para trabalhares?
Sem dúvida alguma, a lã de Arraiolos. Existe numa enorme variedade de tons (mesmo que cores vivas sejam mais raras), é de óptima qualidade, pura lã a um preço razoável - o que é raro - e é portuguesa e tradicional!
- Pareces ter um especial carinho pelo tricot, é o teu tipo de artesanato preferido? Porquê?
Quando era miúda e via a minha mãe e a minha irmã a criarem peças magníficas, sempre senti que não tinha habilidade manual como elas. Sempre me senti como a mulher da família que tinha mais aptidão para usar o cérebro invés das mãos. Todas as minhas tentativas de aprender a costurar (coisa que ainda hoje faço pobremente), fazer crochet, bordar.. saíram totalmente goradas. Não tenho jeito nenhum. Mas o tricot não, o tricot enraizou-se em mim, aperfeiçoou-se comigo, acompanhou-me devagarinho. E posso dizer que, apesar de desistir das coisas muito facilmente (é um defeito meu), nunca desisti de tricotar.
- Dedicas muito tempo ás tuas criações? Como é a tua rotina diária?
Desde o começo do ano tenho voltado a tricotar mais, porque recomecei a trabalhar em part-time e tenho tido mais tempo. Infelizmente, não posso voltar às minhas rotinas de antigamente, quando estava desempregada, em que tricotava 12 a 14 horas seguidas (soa a obsessão, não é?), porque não tenho esse tempo disponível e por causa de uma tendinite que arranjei no pulso há 2 anos atrás. Agora tricoto umas 2/3 horas por dia e sinto-me bem com este ritmo.
- O que te agrada mais em venderes as tuas peças?
Bom, vou ser muito sincera. O que me agrada mais é mesmo o dinheiro (lol). Antes de vender as minhas peças, estive envolvida em muitas trocas e nada me dava mais prazer que criar uma peça para outra pessoa usar e estimar. Ainda hoje, adoro fazer coisas para outras pessoas. Dá-me prazer que algo que saia das minhas mãos possa fazer outrapessoa feliz. Portanto, eu prefiro oferecer a vender, mas como o dinheiro também dá jeito...
- Planos para o futuro?
Continuar a remodelação da loja, fui Boo Creations durante algum tempo e agora sou Nanouke, as coisas ainda precisam de ser limadas e organizadas (e dá um certo trabalho esta mudança de "arraial"). Registar um domínio, tirar melhores fotografias, ser mais disciplinada... Tricotar é das coisas que mais gosto fazer. Vou fazer um esforço para que possa ser uma pequena fonte de rendimento. Quem não desejaria que o seu trabalho fosse aquilo que mais gosta de fazer?
Podem encontrar mais das maravilhosas criações da Carina na sua loja Etsy ou no seu album Flickr!
1 comentário:
Obrigada Mariana, desejo-te muita sorte no futuro, foi um prazer ver-me no teu blog :D*
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